'Resistência até o fim', dizem famílias de policiais grevistas em Salvador
Ao voo rasante do helicóptero verde oliva, se segue um assobio prolongado. São os familiares dos policiais em greve que acampam nos arredores do prédio da Assembleia Legislativa, em Salvador, tomada pelos agentes de segurança que apóiam a "resistência" e critica o cerco militar.
Mais de mil soldados e policiais cercam a Assembleia Legislativa, ocupada há seis dias por centenas de policiais e seus familiares, que reivindicam aumento salarial e anistia.
Em um vasto campo em frente ao edifício de quatro andares, as famílias se reúnem com cartazes e repetem palavras de ordem que vão ao encontro das reivindicações dos grevistas.
"Não ao derramamento de sangue", "Homens de bem" e "Não ao confronto, sim à paz", dizem alguns dos coloridos cartazes improvisados.
"Tudo é culpa do governo. O governador (da Bahia, Jaques Wagner) os trata como terroristas, quando são homens que cuidam dele, dão proteção a ele e a todos os cidadãos da Bahia", revolta-se Gracieni Santana, de 23 anos, cujo marido está entre os 200 policiais que ocupam a Assembleia.
Crispiano Quirino, que como vários manifestantes exibe bandeiras da Bahia e do Brasil, corre emocionado com a verde e amarela nos ombros, em meio ao enorme círculo que reúne todos os familiares para rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria.
O helicóptero sobrevoa o prédio durante quase uma hora, cada vez mais baixo, mas com o passar do tempo, os manifestantes de fora param de prestar atenção. "Querem nos intimidar, mas não vão conseguir", repetem, quase em coro, para dar ânimo uns aos outros.
"A resistência é até o fim", afirma Lázaro de Jesus, policial de 40 anos, que aderiu à greve.
"Este movimento está crescendo e está se tornando um movimento nacional, Não é mais só da Bahia. Rio de Janeiro e Ceará também poderiam se juntar. Isto é pela dignididade da polícia do Brasil", assegura.
Segundo os familiares, um grupo de policiais do interior baiano se mobilizam rumo à capital, Salvador, para apoiar o movimento no acampamento. "Mas estão fechando todos os acessos. Estes vândalos se negam a que a cidadania venha e proteste, mas não vão conseguir", desafia Celia Maria Santana, de 53 anos.
Os acessos à Assembleia Legislativa do estado da Bahia estão bloqueados com veículos blindados e dezenas de soldados, e em frente ao edifício há pelo menos 300 homens do Batalhão de Choque do Exército.
"Esta casa é a mais vigiada do Brasil, nem a casa do 'Big Brother' é tão vigiada", brincam os jovens em frente ao norme contingente, que se mantém firme e inexpressivo.
A noite cai e, em meio ao campo, dois meninos brincam com garrafas de plástico vazias e terra do jardim, enquanto a poucos metros Mônica de Carvalho recebe e organiza caixas com água e alimentos, ao redor das quais são montadas barracas de camping para dormir.
"Temos água, pão, manteiga, mordadela, frutas, suco, leite. Arrecadamos dinheiro entre nós para comprar e algumas coisas são doadas por empresas", conta esta mulher de 37 anos.
O prédio da Assembleia Legislativa fica às escuras e o silêncio começa a se espalhar por toda a área, à espera de um novo dia desta greve que, segundo os manifestantes, durará "o tempo que for necessário".
Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2012/02/06/resistencia-ate-o-fim-dizem-familias-de-policiais-grevistas-em-salvador.htm
VEJA O DISCURSO DO GOVERNADOR JAQUES VAGNER ANTES DE SER GOVENADOR DA BAHIA
07/02/2012
às 0:15 \ Direto ao Ponto
Jaques Wagner aderiu à greve da PM
Adiei por algumas horas a conclusão do caso Gilberto Carvalho para que os leitores pudessem saborear a transcrição, em negrito, do histórico pronunciamento do senhor Jaques Wagner sobre a greve da Polícia Militar da Bahia:
“Em primeiro lugar solidarizo-me com nossos conterrâneos da Polícia Militar do Estado da Bahia, que há aproximadamente dez dias vêm se movimentando juntamente com seus familiares, particularmente as esposas, numa justa reivindicação por melhorias salariais. Infelizmente, a impermeabilidade do Governador do Estado fez com que o Comando da Polícia Militar punisse cerca de 110 militares.
É absolutamente pertinente que a corporação dos policiais militares, que devem estar a serviço do conjunto da sociedade e não simplesmente se comportar como um viés, como uma matiz da política local, reivindique melhorias salariais. Reitero apelo que fiz, através de telegrama enviado ao General Comandante da Polícia Militar baiana, no sentido de que perceba a justeza das reivindicações dos seus comandados ao considerar que, para o exercício da profissão, necessitam de melhores soldos.
Acho um absurdo o atual vencimento dos agentes da Polícia Militar da Bahia, bem como o dos oficiais. Entendo que aqueles que têm por tarefa a manutenção da ordem pública precisam ter uma remuneração condizente com o risco de vida a que se expõem todos os dias.
Por isso, registro minha solidariedade aos 110 oficiais e policiais militares já punidos e reitero veementemente meu apelo ao Comando da Polícia Militar para que, em vez de simplesmente seguir as ordens do Governador do Estado da Bahia, sempre impermeável às reivindicações do funcionalismo do nosso Estado, tente sensibilizar o Executivo do nosso Estado no sentido de que sejam atendidas as reivindicações das esposas dos militares que, na verdade, estão indo às ruas porque não têm como comprar alimentos para a família”.
PS: O pronunciamento, capturado pelo comentarista no Diário do Congresso Nacional, foi feito na Câmara dos Deputados em setembro de 1992, quando o vibrante parlamentar do PT nem imaginava que os eleitores da Bahia um dia cometeriam a insanidade de transformá-lo em governador.
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto/jaques-wagner-aderiu-a-greve-da-pm-baiana/