Forças de segurança ocupam outro reduto do crime no Rio
Por Pedro Fonseca e Sérgio Moraes
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A maior operação já realizada pela polícia do Rio de Janeiro para invadir uma favela dominada pelo tráfico de drogas, com participação do Exército, Marinha e Força Aérea, resultou neste domingo numa ocupação praticamente sem tiros do Complexo do Alemão, uma das principais fortalezas de criminosos na cidade.
Policiais fortemente armados, a maioria transportada por veículos blindados da Marinha operados por fuzileiros navais, assumiram o comando do Complexo do Alemão poucas horas após o início da operação com mais de dois mil homens, na manhã deste domingo. Bandeiras do Brasil e do Estado do Rio foram hasteadas no alto do morro pela polícia como símbolos da ocupação.
Os criminosos, que nos últimos dias trocaram tiros com homens do Exército que realizavam um cerco à comunidade desde sexta-feira, abriram mão do confronto e tentaram se refugiar em casas de moradores, abandonado grande quantidade de armas e drogas. Houve troca de tiros apenas no início da ação, e somente um criminoso foi morto, de acordo com a polícia.
"Nós vencemos, trouxemos a liberdade para a população do Alemão. Agora é o trabalho de busca, procura, prisões e apreensões", disse a jornalistas o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, acrescentando que as cerca de 30 mil casas do Alemão, onde moram mais de 100 mil pessoas, serão vasculhadas pela polícia em busca dos criminosos.
Segundo informações da Polícia Militar, ao menos 10 suspeitos foram presos, incluindo supostos altos líderes do tráfico de drogas na comunidade. Um homem condenado pela participação na morte do jornalista Tim Lopes no Alemão em 2002 também foi preso, em casa, desarmado.
Centenas de armas e ao menos 10 toneladas de drogas foram apreendidas, informou a PM.
"A todo instante temos pessoas presas, equipamentos presos, armas apreendidas, e acredito que isso vai continuar por alguns dias", afirmou o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, no começo da noite, acrescentando que a ocupação policial não tem prazo.
"APENAS COMEÇOU"
A ocupação do Complexo do Alemão foi uma resposta das forças de segurança do Rio de Janeiro a uma onda de ataques a veículos e alvos policiais iniciada há uma semana pela facção criminosa que tinha uma fortaleza no conjunto de favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro. Quase 100 carros e ônibus foram incendiados em diferentes pontos da cidade.
A reação da polícia aos ataques resultou na morte de ao menos 45 suspeitos em confrontos, além de uma jovem de 14 anos vítima de bala perdida. Mais de 100 suspeitos ligados ao tráfico de drogas foram presos em diversas ações ao longo da última semana.
"A reconquista do território do Complexo do Alemão pelo Estado é um passo fundamental e decisivo na política de segurança pública que traçamos para o Rio de Janeiro. Mas o trabalho para garantir, de uma vez por todas, o direito de ir e vir dos cidadãos de bem apenas começou," afirmou o governador Sérgio Cabral em comunicado sobre a ação das forças de segurança.
A operação no Alemão foi iniciada após a fuga em massa de dezenas de homens armados para a comunidade em consequência da tomada na quinta-feira pela polícia da favela Vila Cruzeiro, outro reduto dos criminosos acusados de comandarem a onda de ataques.
Autoridades da área de segurança consideram as ações violentas desencadeadas na semana passada uma resposta à nova estratégia implementada na capital com as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), que provocou a saída de chefes do tráfico de favelas onde esse tipo de policiamento foi instaurado. Acuado e forçado a deixar algumas áreas da cidade, o crime organizado estaria reagindo.
A implantação das UPPs em 15 das centenas de favelas espalhadas pela cidade é considerada o maior avanço na área de segurança pública da capital fluminense nos últimos anos, e a medida foi inclusive citada pelo Comitê Olímpico Internacional como um exemplo de que a cidade será segura para a Olimpíada de 2016. O Rio também será palco central da Copa do Mundo de 2014.
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